de repente sou eu contra o mundo
- Lara Delgado
- 10 de fev. de 2018
- 7 min de leitura
Olá, meus amores!
Quem me acompanha no stories sabe que há uns dias perguntei lá quem ia sair da casa dos pais esse ano, e aí algumas pessoas me chamaram no privado para conversar e acabaram me falando algumas coisas que originaram esse post.
Já falamos um pouquinho aqui sobre as primeiras escolhas, já dei algumas dicas pra quem tá embarcando nessa e agora vou falar um pouquinho das maiores dificuldades e maiores medos de quem está passando por isso ou vai passar muito em breve, que são muitos e não sem razão.
Se você ainda não saiu de casa e tem muitos medos, saiba que isso é muito normal. Mesmo que seus pais tenham te criado e educado pensando nesse futuro a incerteza assusta sim, o medo do desconhecido, sair da zona de conforto, tudo isso é muito difícil. Mas também é gratificante.
O fato de você ir já sabendo seus medos também é muito bom. Na maioria das vezes eles são um pouquinho exagerados. Entretanto, se você sempre quis sair dessa "prisão" que é a casa dos seus pais, sempre quis ser independente, dono do próprio nariz e com a liberdade tão sonhada, vá com calma. O mundo não é essa maravilha que você idealiza não e você vai passar uns perrengues.
O maior medo, em DISPARADO foi:
- não me adaptar e querer voltar logo pra casa dos pais
Desse eu sei bem, com propriedade. O que não me impediu de tentar de novo, e foi a melhor coisa que fiz.
É muito importante saber que tudo tem a sua hora, e não tô falando apenas da hora divina, aquela coisa que Deus preparou pra você ou etc, mas 'a hora' é consequência de um punhado de coisas juntas que fazem com que uma experiência dê certo ali ou não. É todo um contexto.
E dar certo ou não, não te faz melhor ou pior que ninguém. Apenas te faz você! E não quer dizer que, por não ter dado certo nessa hora, não vai dar nunca mais.
Tudo nessa vida é aprendizado e precisamos passar a tomar as experiências ruins como necessárias para o nosso crescimento também. Se não deu certo era porque pura e simplesmente não deveria dar naquele momento.
Outra coisa, na maioria das vezes esse medo se dá de tanto ouvirmos coisas negativas dos nossos pais com relação aos nossos sonhos. Pais, não sejam assim. Apoiem os filhos de vocês, saibam o que e quando falar, não seja um desmotivador. Pra vocês é difícil sim, tanto quanto pra nós, mas tentem nos amparar e apoiar nas decisões difíceis que temos de tomar. Mas nos deixem tomar nossas decisões sozinhos.
Muitas vezes ouvi dos meus pais que eu não conseguiria morar sozinha de novo. Não por maldade deles, eu sei, mas por medo de que eu passasse por todo aquele sofrimento outra vez. Um medo que também era meu. Mas adiantou esse medo todo? Não me impediu de tentar nada e nem preveniu que nada de ruim acontecesse comigo quando saí.
Então, sejam realistas até certo ponto, mas nos apoiem, ajudem-nos a passar pelas coisas com a melhor energia possível. O apoio de vocês muda TUDO.
E vocês, não desistam dos seus sonhos por medo, jamais.
- o medo de estar sozinho
Seja na hora daquele barulho assustador a noite, na hora em que uma barata entra em casa ou quando você só queria uma companhia pra ver Master Chef.
Vou te contar que, os barulhos assustadores à noite vão ser sempre (ou quase sempre) seus vizinhos e não vai te assustar, muito provavelmente vai te irritar, porque eles sempre acontecem em momentos inoportunos.
A hora em que a barata entra, meu amigo, essa já é mais difícil. Ou você compra um estoque de inseticida e tenta matar ela à distância ou corre pra chamar o vizinho, o porteiro, o seu animalzinho de estimação... Mas fica tranquilo, se você for morar em um prédio, eles costumam dedetizar com frequência. Ainda não achei uma barata nesses três anos, mas em compensação, as cigarras me fazem sair correndo pra qualquer lugar que seja.
Por último, a companhia.
Pode demorar um pouquinho ou mais que um pouquinho mas, além de curtir a sua própria companhia, você vai criar laços tão verdadeiros quanto o sangue. Talvez você não perceba de imediato, mas vai chegar um momento em que as pessoas que você tem vão ser tão suas quanto sua própria família.
A saudade dos amigos e família é sim, real, mas você aprende a conviver e isso só faz com que os momentos com eles sejam ainda mais especiais quando acontecerem.
Esses são os maiores medos de quem pensa em sair de casa, todos eles são bem justificáveis, porém, depois que a gente sai descobrimos que as coisas são um pouco diferentes do que imaginávamos e as maiores dificuldades são as mesmas para TODO MUNDO.
- ter que aprender a conviver bem de perto com pessoas tão diferentes
Que todo mundo é diferente já sabemos sem precisar sair de casa pra descobrir não é? Mas é muito fácil conviver com as diferenças quando você só encontra com elas na escola, no trabalho, na rua... Apesar de sermos bem diferentes das outras pessoas nas nossas famílias bom, elas são família e não vão sair de casa porque vocês não se dão bem né?!
Mas isso muda quando você precisa conviver todos os dias dentro de casa com pessoas que não são do seu sangue, que não estão ali "apesar de tudo". Cada um foi criado de um modo, cada um acredita em coisas diferentes e tem ritmos diferentes. Essa salada nem sempre é tão gostosa, mas você vai ficar pulando de galho em galho sonhando em um dia encontrar o lugar perfeito? Queridos, isso não acontece.
A realidade é que a gente tem sim que aprender a conviver com essas diferenças, tem que relevar muita coisa e, pode ter certeza, vão relevar muito por você também.
E se você não passa por isso porque mora sozinho você com certeza passa pela próxima dificuldade:
- a solidão
Nos filmes hipsters ela é uma lindeza, fica mais forte na chuva e em tempo nublado, tem uma trilha sonora que te faz querer afundar a cara no travesseiro e chorar, não é mesmo?
Mas a realidade é que o tempo não para pra você sofrer com a sua solidão, graças a Deus né! Se parasse ficaria tudo ainda mais insuportável.
Pode ter o tempo que for, vez ou outra você ainda vai sentir ela ali, presente, incomodando um pouquinho, te fazendo sentir falta dos pais, dos amigos da sua cidade, dos irmãos, até das brigas de família. Isso não quer dizer que esses dias são ruins, eles também são bons, só um pouquinho diferentes.
- crescer
Essa dificuldade ficou em segundo lugar e não é a toa.
Quando saímos de casa precisamos mudar muito, temos que aprender a nos virar em qualquer situação e isso não é fácil.
Se você não cozinhar a comida não aparece na mesa, se não fizer compras não vai ter nem O QUE cozinhar, a louça não se lava, a roupa não se lava passa e é guardada sozinha, o banheiro não se lava e o lixo não se tira sozinho. Pois é queridos, tudo isso é sua responsabilidade, assim como as contas a serem pagas, que geram juros, conhece?
Às vezes dá vontade sumir, correr de tudo isso, mas não dá, é você ou você. A faxineira também é paga, sabia? E só aí você percebe como é difícil resolver o cardápio do almoço, quanta energia é gasta em fazer uma comida de mãe que jamais terá o gosto da comida de mãe ou de vó.
Só aí a gente percebe o quanto ainda não somos adultos e o quanto sentimos falta do colinho de mãe e pai quando o dia não é tão bom assim. Não importa a quanto tempo você esteja só, é bem difícil se sentir adulto, mesmo quando você se pega indo em cartório, delegacia e hospital, não, você ainda não cresceu o suficiente e não sei nem quando e se sentiremos isso.
Mas em primeiro lugar, ganhando de lavada de qualquer uma dessas eis que surge a pior, o pesadelo de qualquer um que mora fora.
- passar mal sozinho
Eita coisinha complicada. A vontade é ligar chorando e falar: "corre pra cá, por favor, pra ficar comigo!" É ir pra fila do hospital e saber que seus pais não iriam acelerá-la, mas iam torná-la menos insuportável.
É sentir um desespero danado e não ter pra onde correr, é não ter quem marque o médico e faça mingau de fubá ou sopinha de batata, é não ter ninguém que te mime e diga: "vai ficar tudo bem" de um jeito que você acredite em cada palavra.
É estar no seu estado mais vulnerável e se sentir sozinho no mundo.
E é por isso que, se você mora sozinho ou está indo morar: cuide dos seus amigos, seja um pouquinho pai uma vezinha ou outra! Só quando eles passarem mal. Isso não custa nada e faz uma diferença tão grande. Seja quem vai no hospital, faz comida, dá remédio e chama o táxi. Você com certeza vai querer ter alguém assim também e todo mundo pode se ajudar.
A gente sai de casa achando que vai ser O SONHO e sim, pode ser, tem grandes chances. Mas nada nessa vida é só felicidade, é difícil, é desgastante às vezes. Mas vale a luta, a resistência. Vale cada lágrima de saudade, cada dorzinha nos pés no fim do dia.
É trilhar o próprio caminho do seu jeito, à sua forma e não há comodidade no mundo que pague a sensação de ser dono da própria história.
É não se sentir tão em casa assim na casa dos seus pais porque agora você tem a SUA. Se conhecer um pouquinho mais a cada dia e amar a própria companhia.
Espero que esse post tenha ajudado a acalmar seu coração e ter uma perspectiva mais real do que realmente é sair de casa, espero não ter minado a sua confiança e o seu entusiasmo e espero, do fundo do coração que essa experiência seja tão maravilhosa pra vocês quanto é pra mim.
Que dia após dia nós possamos ir vencendo todos esses pequenos obstáculos que tornam o fim do dia ainda mais gratificante.
Beijins e até a próxima.
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